O momento pandemico atual que pelo qual estamos passando atingiu vários setores que tiveram que alterar o seu percurso em pouco tempo para se adaptar a uma nova realidade.
A Semana de Moda, assim como outros eventos, também precisou passar por algumas adequações. A pandemia fez com que as grifes cancelassem, ou adiassem, vários desfiles ao redor do mundo, e despertou algumas questões que já eram discutidas no setor, como a necessidade de desacelerar o ritmo das produções.
Uma das formas em que as marcas se organizaram para exibir suas coleções foi através do apoio de plataformas digitais, que em um primeiro impacto pode parecer desmotivador, afinal, assistir um desfile que esperamos meses por uma tela de computador não nos proporciona a mesma experiência pois estamos ansiosos para viver toda a magia que envolve um desfile presencial. Ansiamos pela experiência física do conceito experimental não só das peças em si, mas também da sua apresentação, desde a concepção cenográfica da passarela e a trilha sonora, até os acessórios de beleza.
O que a moda pode nos oferecer em tempos de crise?
Paris é conhecida mundialmente pelos encantos que envolvem a alta-costura, mas em tempos de isolamento e incertezas, qual é o papel de uma semana de alta-costura?
Sem duvidas a semana da moda é um dos eventos mais exclusivos do meio fashion, e ainda mais exclusivo se lembramos que que apenas uma pequena parcela da população tem acesso, de fato, ao que é apresentado ali. No entanto, assim como a moda representa a realidade do tempo presente, ela também tem o papel lúdico da fantasia. Nossos olhos brilham por tudo que é belo e nos traz alegria. Isso é fato. Seja no campo das artes plásticas, da música, do cinema e, obviamente, da moda, somos sempre atraídos por experiências que nos proporcionam um escape da realidade, e este papel se torna ainda mais importante quando vivemos tempos difíceis e desafiadores.
As criações de alta-costura têm esse papel importantíssimo, e cada vez mais necessário, de nos fazer sonhar, de estabelecer uma conexão com o belo, criando uma experiência com um mundo fantástico e nos permitindo sair do nosso mundo real, servindo assim como uma válvula de escape da realidade para um mundo onde tudo é possível.
Para nos transportar a um mundo mágico, o estilista, junto à equipe de cenografia, desenvolve e concebe cenas que são capazes não só de contar a história da coleção mas também nos situam dentro de todo o enredo através das diferentes sensações e experiências que um desfile proporciona. Contudo, em um momento de pandemia essa realidade teve que ser adaptada para que a mesma experiência pudesse ser transmitida através de um novo formato, e diante disso, muitas grifes optaram por exibir suas coleções em plataformas digitais.
Este meio faz com que os desfiles se tornem mais democráticos, já que agora o acesso não é mais restrito a uma parcela específica da população e consegue atingir um maior número de pessoas. Este é um ponto altamente positivo para as marcas, já que assim elas têm uma maior visibilidade e aumentam as chances de atrair novos clientes.
Um novo olhar para o futuro
Ainda não foi tomada uma decisão unânime a respeito do futuro das semanas de moda após o fim do isolamento social, mas existe um ponto em comum entre as diferentes perspectivas para o futuro dos tradicionais eventos, que muito provavelmente darão seus passos ao lado das tecnologias digitais.
Enquanto aguardamos as grandes capitais da moda como Londres, Milão e Paris nos mostrarem como elas adequarão as suas fashion weeks às plataformas digitais, os novos modelos vão ganhando cada vez mais visibilidade ao passo que nos possibilitam experienciar as coleções de maneiras nunca antes exploradas..
“As pessoas estão começando a questionar os motivos e valores de um desfile físico, já que a tecnologia pode atingir um público muito maior por meio do espaço digital”, comentou Matthew Drinkwater, diretor da Agência de Inovação de Moda do London College of Fashion, ao WWD.
Este é um momento propicio para explorar o que acontece nos bastidores e como é criada uma coleção. Muitos vêm os produtos expostos nas lojas e não têm noção de qual é o processo criativo e produtivo por trás deles. Com o isolamento social acontecendo, algumas grifes optaram por trazer um lado mais humano e não tão distante dos consumidores, criando uma conexão mais intima, muito mais do que consumidor e marca.
Um grande exemplo foi a campanha da Maison Schiaparelli, que trouxe um vídeo do diretor criativo Daniel Roseberry desenhando alguns croquis em uma atmosfera mais espontânea, diminuindo a distância entre o público e o criador, que nos mostra como é seu processo criativo, além de toda a composição mais caseira que nos remete instantaneamente ao momento que estamos vivendo, isolados dentro de casa e sem grandes produções em um ambiente mais intimista.
O mundo mudou... e a moda também
O mundo fashion já passou por diversas mudanças após momentos históricos como o que estamos vivendo hoje, e uma dessas mudanças foi após a Segunda Guerra Mundial, momento no qual a escassez e o racionamento de tecidos levou as peças a serem desenhadas em traços retilíneos, simples e sem grandes ornamentos, conferindo às peças uma caráter pesado e monótono.
Christian Dior viu no fim da Segunda Guerra uma nova oportunidade e propôs uma nova onda de otimismo através de criações que se diferenciavam pela elegância que fora perdida na obscuridade, criando assim o NEW LOOK, no qual a silhueta já estava bem mais leve e as saias mais rodadas, trazendo liberdade à mulher e libertando-a do passado reprimido através da materialização de um ar mais leve que contrasta com os anos anteriores.
Isso nos faz refletir o momento atual onde a indústria da moda produz grandes coleções em massa e nos fazem consumir em um ritmo desenfreado. Com o isolamento social conseguimos perceber que não precisamos de tudo isso, e que precisamos mudar nossas atitudes e hábitos para que a moda possa seguir um caminho mais sustentável e menos consumista.
Em meio a um futuro tão incerto, a única certeza que temos é que o mundo não será mais o mesmo após o fim dessa pandemia e estamos caminhando para um abordagem mais humana e social, isso não só no âmbito da moda, mas em todas as áreas.
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