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Rita Patron

Arquitetura, cinema e repertório: uma relação artística sublime

A relação entre arquitetura e cinema é muito mais profunda do que geralmente se percebe à primeira vista. Relação esta que está para além dos seus aspectos formais, da psicologia e da estética de cada filme. Desta forma, a arquitetura no cinema transcende a mera encenação para ser participante, e se torna muitas vezes protagonista do próprio acontecimento cinematográfico. Sob essa ótica, fazer cinema também é fazer arquitetura.


Toda vez que me deparo com o questionamento sobre a importância das referências na Arquitetura, imediatamente, o repertório do cinema vem à tona. Por crescer em um mundo repleto de musicais, filmes noir, cenários de ficção e romances históricos, a linguagem cinematográfica sempre foi um ponto crucial na minha formação.


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Repertório trata-se de um conjunto de conhecimentos adquiridos ao longo de cada jornada pessoal. É como uma bagagem, que no retorno de cada viagem, não se desfaz, se acumula e fica organizado em algum departamento do cérebro. Abrange o entendimento do contexto social, da cultura e da interpretação individual. Ter um repertório bem desenvolvido, proporciona maior capacidade de fazer analogias, associações e criações. Sustenta argumentações em torno das ideias geradas.


Entende-se arquitetura como uma expressão subjetiva, na qual a arte se manifesta em espaços tridimensionais que ocupamos. A cenografia que transcende o emocional torna-se real, pois as composições e seus elementos são produtos visuais.


É atributo da sétima arte construir um ideário de imagem, e produzir nos espectadores a sensação de fazer parte de espaços, posições e narrativas sobre o mundo criado. O uso da filmografia, ou de extratos de cenários como recurso para projetos, obedece à premissa de suscitar emoções através do apelo visual, ou seja, capturar o espectador através da imagem e fazê-lo desejar que a imagem se concretize, e vice-versa.


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Sigfried Giedion, arquiteto modernista suíço, reconheceu que o cinema era o único meio capaz de tornar a arquitetura moderna compreensível para a sociedade, pois explicava que projetos como os de Le Corbusier poderiam ser expostos ao grande público através do telão, tornando a arquitetura moderna desejável e popular entre as massas.


Na história do cinema, a arquitetura teve grande importância, pois vários cineastas a tiveram como ponto focal no roteiro. E, como em qualquer arte, utilizavam a crítica como método de compreensão e mudança social. Tal como acontece na vida, onde os indivíduos estão familiarizados com um ou outro espaço arquitetônico, o cinema muitas vezes tenta refleti-los como pano de fundo para a cena que ocorre. Isso não é feito apenas para alcançar maior realismo, mas também, para que o espectador tenha empatia, se veja refletido na ficção e sinta.


Em suma, a relação entre arquitetura e cinema é uma ligação tão bela e complexa porque a primeira se torna um personagem em si. E, por sua vez, o cinema capta a essência e a beleza da arquitetura, aumentando o seu impacto no espectador. Ambas são coerentes com o propósito de criar uma atmosfera e uma memória duradoura, edificando, assim, as nossas referências.



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