top of page
Rita Patron

De onde surgem as ideias?

Por ser apaixonada desde sempre por cidades e suas histórias, bastante curiosa e nutrindo um grande amor pela arquitetura, percorri diferentes lugares no mundo e assim como no livro “As Cidades Invisíveis”, de Ítalo Calvino[1], sempre quis descrevê-los, mas com detalhes gráficos.


Após a pandemia, privada das viagens que alimentam a alma, comecei a me perguntar realmente de onde vem a nossa inspiração para a criação da arquitetura, das cidades e das paisagens, que são os “cenários das nossas vidas”, como afirma Aldo Rossi[2].


De acordo com a palavra latina de origem, inspirare, sugere algo que “nos respira vida”. Ou seja, aquilo que está presente a diário em nossas andanças. Basta saber onde e como olhar. Nos séculos passados, essa fonte até foi considerada divina. Os conceitos modernos não são tão sobrenaturais, mas estudiosos parecem confirmar que a criatividade ainda é estimulada por algum gatilho externo. Palavra esta que nos remete as mais diversas experiências que vivemos e que, em dado momento quando necessário, afloram em nossa mente.


Uma boa ideia é resultado de um conjunto de repertórios que acumulamos durante muito tempo. Arquitetos e artistas, por exemplo, buscam em fontes externas a inspiração para obter uma solução para seus problemas. Essas soluções podem vir da natureza, da filosofia, da história, da vida social e cotidiana e quaisquer outras experiências.


O que nos leva a palavra referência. O que é? Onde buscar? Como usar? Referências são interpretações sob óticas singulares da nossa vivência, em contextos diferentes uns dos outros, de momentos da história, da cultura pop, da trajetória social, entre outros.




Cada criação é uma apropriação de uma referência. Mas não uma cópia. Jamais serão iguais, pois imprimimos a linguagem de cada artista. Linguagem impressa na regionalidade de cada um, nas crenças, nas lendas e costumes típicos. Criatividade portando é proveniente da curiosidade, da conectividade e da mistura com o próprio repertório, da troca e da capacidade de transformação do existente em algo novo.


Pessoalmente, toda forma de arte serve de inspiração: um desenho, uma pintura, uma fotografia, uma música, um livro ou um filme. Saber fazer associações e analogias entre a referência e realidade auxiliam na interpretação, olhar os detalhes por trás de tudo e saber como realizar as conexões.


Quando criamos, o fazemos sobre o existente, porque nos inspiramos, testamos e nos reciclamos nas trocas, pois assim como afirma, Edson Mahfuz, “Nada provém do nada”[3]. O alento vem de fora, vem do universo, do público e do privado, mas a conexão então, é feita dentro da mente. Neste sentido, a inspiração é um tanto quanto um evento espiritual afinal.


[1] CALVINO, Italo. As cidades invisíveis. Editora Companhia das Letras, 1990. [2] ROSSI, Aldo. A arquitetura da cidade. Leya, 2022. [3] MAHFUZ, Edson da Cunha. Nada provém do nada. Revista Projeto, São Paulo: Arco, n. 69, p. 89-95, 1984.

Comments


bottom of page