A Cathédrale Notre-Dame de Paris, a Catedral de Nossa Senhora de Paris, ou simplesmente a Notre Dame, é uma das mais antigas catedrais francesas em estilo gótico. Sua construção data do início de 1163, e é dedicada a Maria, mãe de Jesus Cristo. Rodeada pelas águas do rio Sena em Paris, surge em esplendor e imponência como símbolo das necessidades espirituais e aspirações da sociedade de uma época.
Através de suas paredes, colunas e arcos, as janelas, decoradas com vitrais coloridos, filtram a luz natural e lhe conferem um clima de misticismo e paz em seu interior. Por esse viés romântico, foi palco do romance de Victor Hugo em 1831, O Corcunda de Notre Dame.
Sobreviveu a Revolução Francesa, quando seus sinos, bordões e brasões foram fundidos para fazer canhões, suas imagens mutiladas e seus altares destruídos. Foi cenário da Coroação de Napoleão, e passou por duas guerras mundiais.
Exerceu verdadeiro fascínio e emoção estética em Viollet-le-Duc, que maravilhado pela pureza de suas linhas e a luz difusa de suas rosáceas, venceu o concurso para restaurar a Catedral junto a Jean-Baptiste-Antoine Lassus, iniciada em 1845, e ambos foram responsáveis pela autoria da fabulosa flecha inaugurada em 1859. Viollet soube criar, introduzindo alterações e melhorias, como por exemplo, povoar o exterior com gárgulas e figuras fantásticas, aumentando a aura mística e romântica da Catedral.
Em seus 850 anos de trajetória e história arquitetônica, entrelaçadas com a história da cidade e de seus habitantes, e porque não, do mundo ocidental, jamais se pensou, em pleno século XXI, era de tantos seguros, rotas de fuga, edificações protegidas, etc., que um patrimônio da humanidade dessa envergadura, estivesse tão indefeso às ações corriqueiras de um acidente de trabalho por exemplo, em uma obra de restauro.
Em meio a consternação pela perda irreparável, a França amanheceu hoje com um sentimento de reconstrução. A estrutura da nave e as duas torres se salvaram, embora numerosos vitrais e a simbólica flecha estejam perdidos para sempre. Os danos causados vão de encontro às políticas de proteção ao patrimônio artístico, histórico e arquitetônico que estão sendo adotadas atualmente. Por consequência, o caso da catedral não é uma exceção, mas sim, a triste realidade no mundo patrimonial.
O incêndio da Notre Dame, ocorre pouco mais de sete meses após o incidente que destruiu outro símbolo do patrimônio, o Museu Nacional no Rio de Janeiro, que guardava obras e artefatos de valor incalculável para a história do Brasil. Ano após ano, informes da Unesco dão conta do estado de saúde do patrimônio mundial, que, ou estão desaparecendo, ou sofrendo danos irreversíveis em virtude da falta de recursos e manutenção apropriada.
Quando catástrofes como essas acontecem, salta imediatamente aos olhos, a falta de planos para gerenciar sinistros em edifícios de alto valor histórico, mas principalmente nota-se a ausência de uma sensibilidade real com respeito ao patrimônio que seja traduzida em ações concretas. As imagens das chamas, agora perpetuadas em nossas mentes, alertam a consciência sobre a importância de símbolos históricos e o real significado deles enquanto história, memória e sentimentos. Não se reconstrói exatamente como era, não se remenda a ferida, se pensa e se estuda para atuar em como evitar mais tragédias assim.
REFERÊNCIAS
HUGO, Victor. O corcunda de Notre-Dame. Editora Schwarcz-Companhia das Letras, 2018;
REIFF, Daniel D. Viollet le Duc and historic restoration: The west portals of Notre-Dame. Journal of the Society of Architectural Historians, v. 30, n. 1, p. 17-30, 1971;
REIS, Dennys Silva. LITERATURA E ARQUITETURA: NOTRE-DAME DE PARIS SOB OS CONSTRUCTOS DE ARGAN. Revista ECOS, v. 20, n. 1, 2016;
VIOLLET-LE-DUC, Eugène-Emmanuel. The architectural theory of Viollet-le-Duc: readings and commentary. Mit Press, 1990;
Unesco Brasil_ http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/culture/world-heritage/heritage-legacy-from-past-to-the-future/